domingo, 28 de abril de 2013

Lendas dos Orixás: Oraniã

ORANIÃ(*) NASCE NEGRO E BRANCO E TEM DOIS PAIS

Ogum venceu a guerra contra Ogotum.
Do espólio da guerra trouxe sete escravas.
Uma delas era Lacangê, mulher de rara beleza.
Ogum amou-a em segredo, escondendo-a para si.
Mas seus falsos amigos revelaram o segredo a seu pai Odudua.
O pai ordenou a Ogum que trouxesse a escrava à sua presença.
Encantado com ela, Odudua a fez sua esposa.

Nove meses depois, Lacangê teve um filho.
O menino deixou a todos espantados.
Do lado direito, tinha a pele negra, como a de Ogum;
do lado esquerdo, a mesma pele alva de Odudua.
Ogum e Odudua entreolharam-se, sem nada dizer.
Esse menino recebeu o nome de Oraniã.
Um dia foi um grande guerreiro,
fundou o reino de Oió e foi pai de Xangô.


ORANIÃ CRIA A TERRA
Monolito em homenagem a Oraniã na cidade de Ifé.
Seu nome é Opa Òrànmíyàn(**).

No começo só havia água sob o céu
e nenhum ser vivente.
Olodumare, Deus Supremo, Senhor de Todas as Coisas,
criou primeiro sete príncipes e depois alguns artefatos.
Em sete sacos pôs búzios,tecidos, pérolas, pedras preciosas.
Criou um pano preto e nele embrulhou uma misteriosa substância.
Criou uma galinha e uma corrente e sete barras de ferro.
Na corrente pendurou os artefatos e os sete príncipes.
Pela corrente desceu tudo sobre as águas
e do alto do Céu deixou cair uma semente.
Da semente cresceu uma palmeira,
e a palmeira abrigou os sete príncipes.
Cada príncipe ganhou uma cidade para governar:
Oloú ganhou o reino de Egbá.
Onixabé, o reino de Savé.
Orangum foi o soberano de Ilá.
Oni, o rei de Ifé.
Ajerô recebeu Ijerô.
Alaqueto reinou em Queto.
Oraniã, o caçula, foi feito rei de Oió.

Antes de sair para suas cidades,
os irmãos repartiram entre si o que lhes havia dado Olodumate.
Os mais velhos ficaram com os búzios, o dinheiro,
com as pedras preciosas e as jóias,
os tecidos preciosos e outras riquezas.
O mais jovem, que era Oraniã, ficou com a galinha,
as sete barras de ferro e o embrulho de pano preto.
Quando Oaniã abriu o pano,
deparou com uma escura e estranha substância,
que jogou na água.
A substância boiou na superfície 
e a galinha, voando sobre o montículo,
pôs-se a ciscar a tal matéria.
O montículo cresceu e cresceu
e assim a Terra foi criada.
Oraniã desceu à Terra e tomou posse dela.
Mas os irmãos mais velhos viram a Terra
e pretenderam tomar posse dela.
Oraniã tomou suas sete barras de ferro como armas
e com elas defendeu a Terra da cobiça dos irmãos.
Oraniã venceu os irmãos e poupou suas vidas.
Todos foram reis.
Todos deveram subserviência a Oraniã.
Oraniã foi o grande rei de Oió,
e Oió, a capital de todas as cidades.

(*) Oraniã = orixá das profundezas da Terra, filho de Odudua e rei de Ifé.

(**) O  monumento lítico Opá Oraniã [Ọpà Ọrànmíyán] é um símbolo não só da cidade de Ifé-Ifé, considerada  o braço da civilização iorubá, mas da própria cultura desse povo.


Fonte: Mitologia dos Orixás - Reginaldo Prandi - Cia. das Letras

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